Star Wars: Os Últimos Jedi é um exercício de paciência
Crítica escrita em dezembro de 2017
Foto: divulgação do filme
Crítica: Star Wars - Os Últimos Jedi
Se fosse necessário resumir o novo episódio da saga em uma palavra, a palavra seria: modorrento
Trama arrastada, cenas enjoativas e previsíveis, vilões fraquíssimos, piadas forçadas, reviravoltas cansativas… Tentei encontrar bons adjetivos para o mais novo capítulo dessa saga magnífica, mas eles são escassos em Os Últimos Jedi. O episódio VIII não só é o pior filme da série, como é um dos longas mais chatos que já assisti.
Eu devo ser o único fã da trilogia clássica que adorou a trilogia prequel com a mesma paixão. Em compensação, todo ódio que não senti por Jar Jar Binks e Hayden Christensen foi descarregado agora. Uma vez que Star Wars é minha saga hollywoodiana favorita não vou poupar críticas ao desastre que a Disney fez com esse episódio. Alguns spoilers podem aparecer neste texto, mas o roteiro é tão previsível que nenhuma revelação pode estragar a experiência como Rian Johnson já o fez.
Antes de começar a escrever esta crítica, fui procurar a opinião de outros profissionais e fãs da série. E, olha, pouquíssimos gatos pingados me acompanham nesta opinião sobre Os Últimos Jedi. Tenho que confessar que me entristece a facilidade que as pessoas têm de se impressionar por obras fracas, mas, sabendo da legião de espectadores que os filmes de super-herói arrastam, esse fato não me surpreende. Depois de ver a enxurrada de elogios que o péssimo filme de Assassin’s Creed recebeu, fico com a impressão que qualquer porcaria satisfaz público e crítica desde que tenha fotografia, figurino e cenários bonitos. Mas isso é outra história.
Vamos focar no que interessa. Por que o episódio VIII de Star Wars é tão ruim? A começar pela duração, 152 minutos desnecessários, ainda mais para um filme que com meia hora já me deixou entediado. Muitos trechos monótonos até o longa engrenar, e quando isso ocorre ele é recheado com cenas clichês, de modo que quando o bicho começou a pegar eu já estava de saco cheio e torcendo para o filme acabar logo. Os momentos de batalhas espaciais são uma cópia das cenas antigas só que com efeitos mais bonitos e enrolação dispensável. As lutas com sabres de luz… cadê as lutas com sabres de luz? Bom, as cenas de batalha corporal foram poucas, curtas e (na maioria das vezes) fracas. O embate entre Kylo Ren e Luke Skywalker que prometia ser o ponto alto da película foi capenga (saudades de Darth Maul vs. Obi-Wan e Qui Gon). E por falar em Luke, o que fizeram com ele? O personagem ficou chato, em todos os sentidos. Aqueles flashbacks em que Skywalker hesita entre matar ou não matar o jovem Ben Solo foram inconvincentes e transformaram o mestre Luke num rapaz confuso e ingênuo. E quanto a Kylo Ren? É claro que nenhum vilão jamais vai conseguir ter um décimo da presença de Darth Vader, mas o cara da vez é um mero adolescente mal-humorado e insuportável. O Supremo Líder Snoke, então, é uma versão superficial de Darth Sidious, com uma personalidade tão profunda quanto um pires. Lamentável que tenham chamado Andi Serkis para um papel tão raso. O General Hux é excessivamente cômico e, ao mesmo tempo, sem graça. Eu tinha uma expectativa imensa para a Capitã Phasma, mas a coitada mal aparece e já dá adeus (numa das raras cenas empolgantes do filme).
Foto: protagonistas da nova trilogia
Sobre a nova geração de protagonistas, eles até que continuam legais, mas não o suficiente para salvar o filme. Enquanto isso, alguns personagens clássicos e com potencial como C3PO, R2-D2 e Chewbacca ficaram escanteados. Para compensar, botaram o mestre Yoda em sua velha e divertida forma, porém ele só aparece para garantir o fan-service e arrancar algumas lágrimas dos mais nostálgicos. “Ah, mas o Yoda apareceu para mostrar ao Luke que ele ainda não sabia tudo sobre a força”, ok, só que isso já tinha ficado bem evidente.
Toda reviravolta era pontuada por algum personagem (geralmente a Leia) que insistia em avisar: “Ah! Agora temos uma esperança!”, “Ah! Agora não temos mais nenhuma esperança!”, “Opa! Agora vai!”, “Ah, não! Não temos mais chances!” (repita essa lenga-lenga mais umas dez vezes).
Além desses problemas, muita coisa sem sentido permeou a trama. As velhas explosões no espaço, por exemplo, dá para perdoar, mas uma pessoa sobreviver e sair voando estilo Superman no vácuo, por mais que essa pessoa seja a Leia, não dá para engolir.
Acontece que o filme erra até quando acerta. Interessante que a Rey não pertença a uma linhagem de gente poderosa, Anakin Skywalker também não pertencia, o problema é que O Despertar da Força criou uma expectativa enorme sobre a família dela, e a maneira como Os Últimos Jedi revela o passado da garota é bem xoxa, no meio de um diálogo bem xoxo, como se fosse algo supernormal ou sem importância. O mais engraçado disso é que lendo teorias elaboradas por fãs sobre os pais de Rey, lá em 2015, após o episódio VII, eu pensei: “Todo esse mistério, o pessoal tá pensando que ela é filha do Luke, do Obi-Wan… só falta ela ser filha de gente comum”, aí eu ri sozinho desse absurdo…
Quando anunciaram que a Disney havia comprado a Lucasfilm eu já me preparei para um desastre. Porém, fiquei satisfeito com o resultado de O Despertar da Força e esperançoso que o episódio VIII fosse ainda melhor. Aí sim, fomos surpreendidos novamente. Agora, quanto aos vindouros episódio IX e os spin-offs, melhor baixar as expectativas de novo e estar pronto para possíveis tragédias. Que a força esteja conosco.